Mitologia Céltica
De modo geral, o termo celta aplica-se aos povos que viveram na Grã-Bretanha e na Europa Ocidental entre 2000 a.C. e 400 d.C.. Eram civilizações da Idade do Ferro, habitantes sobretudo de pequenas aldeias lideradas por chefes guerreiros. Os celtas da Europa continental não deixaram registo escrito, mas conhecemos seus deuses através dos conquistadores romanos, que estabeleceram elos entre muitas dessas divindades e seus próprios deuses. Por exemplo, o deus do trovão Taranis era o equivalente do Júpiter romano, e várias outras divindades locais eram equiparadas a Marte, Mercúrio e Apolo. Os povos do País de Gales e da Irlanda também deixaram uma mitologia muito rica e muitas de suas lendas foram escritas durante a Idade Média.
A mitologia celta pode ser dividida em três subgrupos principais de crenças relacionadas.
- Goidélica - irlandesa e escocesa
- Britânica Insular - galesa e da Cornuália
- Britânica Continental - Europa continental.
É importante manter em mente que a cultura celta (e suas religiões) não são tão contíguas ou homogêneas quanto foram a cultura romana ou grega por exemplo. Nossos conhecimentos atuais determinam que cada tribo ao longo da vasta área de influência céltica tinha suas próprias divindades. Dos mais de trezentos deuses celtas, poucos efetivamente eram adorados em comum.
Principais deuses
Outros deuses
Os celtas adoravam um grande número de deuses dos quais sabemos pouco mais do que os nomes. Entre eles, as deusas da natureza, como Tailtiu, Macha, e Epona, deusa dos cavalos. Figuras masculinas incluíam deuses associados a uma enorme variedade de coisas, como Goibiniu, o fabricante de cerveja. Havia também Tan Hill, a divindade do Fogo.
Cernuno (também chamado de Slough Feg, ou na forma latinizada Cornífero) é comprovadamente um dos mitos mais antigos mas do qual pouquíssimo se sabe. O escritor romano Lucano fez várias menções a deuses celtas como Taranis, Teutates e Esus que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou relevantes.
Vários deuses eram formas variantes de outros. A deusa galo-romana Epona parece ser uma variante da deusa Rhiannon, adorada em Gales, ou ainda Macha, adorada na região do Ulster. Povos politeístas raramente se importam em manter seus panteões da forma organizada em que os pesquisadores gostariam de encontrar. Também a cultura celta sofreu influências das antigas civilizações, como por exemplo os babilônicos, a deusa Ianellus é o resultado desta miscigenação.
Templos
Frequentemente se diz que os povos celtas não construíam templos, adorando seus deuses apenas em altares em bosques. A arqueologia já provou que isto está incorreto, e várias estruturas de templos já foram encontradas em regiões célticas. Depois das conquistas de Roma sobre partes das regiões celtas, um tipo distinto de templo celto-romano se desenvolveu.
Ritos celtas
Os primeiros celtas não construíam templos para a adoração de seus deuses, mas mantinham altares em bosques (de Nemeton) dedicados a serem locais de adoração. Algumas árvores eram consideradas elas próprias sagradas. A importância das árvores na religião celta pode ser mostrada pelo fato que o nome da tribo dos Eburônios contém uma referência a yew tree, e nomes como Mac Cuillin (filho de acebo), e Mac Ibar (filho de yew) aparecem nos mitos irlandeses. Apenas durante o período de influência romana os celtas começaram a construir templos, um hábito que foi passado às tribos germânicas que os suplantaram.[carece de fontes]
Escritores romanos insistiam que o sacrifício humano era praticado pelos celtas em larga escala e há indícios dessa possibilidade vindos de achados na Irlanda, no entanto a maior parte da informação sobre isso veio de rumores de "segunda mão" que chegavam a Roma. São muito poucas as descobertas arqueológicas que substanciam o processo de sacrifício e assim os historiadores modernos consideram que os sacrifícios humanos eram um acontecimento extremamente raro nas culturas celtas.
Mas havia também, no entanto, um culto guerreiro centrado nas cabeças cortadas de seus inimigos. Os celtas muniam seus mortos de armas e outros pertences, o que indica que acreditavam na vida após a morte. Depois do funeral, eles também cortavam a cabeça do morto e esmagavam seu crânio para evitar que seu espírito permanecesse preso.
Nenhuma menção aos cultos celtas pode deixar de descrever os druidas. Esses sacerdotes representam simplesmente a classe mais ou menos hereditária de xamãs, característica de todas as sociedades indo-europeias antigas. Em outras palavras, eles são o equivalente a casta brâmane indiana ou aos magi persas, e como estes um especialista nas práticas de magia, sacrifício e augúrio. Eles eram conhecidos por ser particularmente associados a carvalhos e trufas; essas últimas talvez usadas na confecção de medicamentos ou alucinógenos. Outra figura importante na manutenção das lendas célticas era o bardo, aquele que, através de suas músicas, difundia os feitos de bravura dos heróis do passado. Desse ponto de vista, a cultura celta não foi uma cultura histórica - do ponto de vista que não teve história escrita (ainda que os celtas possuíssem formas rudimentares de escrita, baseadas em traços verticais e horizontais). Suas histórias eram transmitidas oralmente, e os bardos eram particularmente bons nisso já que, uma vez que suas histórias eram musicadas, tornava-se fácil lembrar das palavras exatas que as compunham. Além disso, eles podem ter sido considerados uma espécie de profetas. O historiador Estrabo descreveu-os como "vates", palavra que significa inspirado, estasiado. É possível que a sociedade céltica tivesse, além da religião taumatúrgica e ritualística dos druidas, um elemento de comunicação estásica com o Além.
A conversão dos druidas
O cristianismo se espalhou com facilidade pelas regiões célticas como a Gália, Bretanha, Grã-Bretanha e Irlanda. A presença se faz notar desde o século II, no entanto, com maior intensidade a partir do século IV. Vários mosteiros são abertos. São Colombano fundou mosteiros em Annegray no Vosges, em Luxeit na Borgonha, e até em Bobbio na Lombardia. São Patrick (ou São Patrício) é o santo padroeiro da Irlanda. Vários manuscritos da Idade Média contam a sua lenda. Nascido possivelmente em 390 ou 415 (não há certeza sobre as datas), ele não tem origem irlandesa, mas grã-bretã. Quando jovem, foi raptado por piratas e tornado escravo na Irlanda. Liberto seis anos depois, se torna sacerdote e depois bispo, quando decide responder a um chamado divino para converter os seus sequestradores. Desembarca em Ulster, querendo implantar uma rede de discípulos, e inicia a conversão dos druidas, ritualísticos da sociedade local. E, desde então, oficialmente, em cada último domingo do mês de julho, multidões de irlandeses galgam o monte Croagh Patrick para render homenagem ao santo fundador.
Resquícios modernos
Atualmente, os modos e crenças celtas ainda mantêm uma grande influência em muitas das regiões em que eram praticados outrora. Conhecimentos sobre a religião pré-cristã ainda são comuns nas regiões que foram habitadas pelos celtas, apesar de, agora, estarem diminuindo. Adicionalmente, muitos santos católicos não oficiais são adorados nessas regiões, como santa Brígida na Escócia e na Irlanda. Além disso, vários ritos envolvendo peregrinações a vales e poços considerados sagrados e com propriedades curativas têm origem celta.
As festas dos celtas eram baseadas nos solstícios e equinócios. O Imbolc era celebrado no dia 1º de fevereiro e marcava o começo da vida da natureza depois da hibernação do inverno. O Samhain, a festa dos mortos, ocorria no dia 1º de novembro. A festa cristã de Todos-os-Santos é derivada dessa data comemorativa celta.
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