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Frithjof Schuon

Frithjof Schuon

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Frithjof Schuon (Basileia18 de junho de 1907 — Bloomington5 de maio de 1998) foi um metafísico, mestre espiritual e filósofo das religiões. É considerado o principal porta-voz da Filosofia Perene, juntamente com René Guénon, nos tempos modernos.[1] Hoje, a influência da mensagem universalista de Schuon é global, abrangendo seguidores e admiradores no Ocidente e no Oriente. Em outras palavras, os escritos de Schuon, que enfatizam mais o cerne do que a "casca" das tradições, atraem leitores de variados horizontes religiosos.[2]
Nascido na Suíça alemã, Frithjof Schuon se estabeleceu em Paris na juventude, onde exerceu o ofício de desenhista têxtil. De perfil filosófico e espiritual, absorveu jovem ainda as obras de Platão e do Vedanta indiano, interessando-se ao mesmo tempo pela sabedoria mística e esotérica das grandes religiões mundiais, especialmente do CristianismoIslamismo e Budismo.
“(Schuon é) um dos mais influentes e originais pensadores no campo das religiões e espiritualidades de nossos tempos.”[3] Leitor do metafísico francês René Guénon, ele viajou ao Cairo em 1938 e em 1939 para conhecê-lo pessoalmente. No Magrebe, buscou o conhecimento espiritual dos mestres sufis, tendo conta(c)tado especialmente a tariqa (confraria mística) do célebre mestre Sufi Ahmad al-Alawi [4].
Após a Segunda Guerra Mundial, Schuon, então residente em Lausana, empreendeu diversas viagens internacionais, com o objetivo de conta(c)tar autoridades espirituais das diversas tradições e recolher material para seus livros. Visitou a Índia, o Egito, o Marrocos, Grécia, Espanha e as planícies da América do Norte, para travar conta(c)to direto com o patrimônio espiritual dos índios. Sua Via espiritual, centrada na "religio perennis" (religião perene), difundiu-se ao longo das últimas décadas pela Europa, América do Norte, América do Sul e Ásia.
A Filosofia Perene joga uma luz original e contemporânea sobre o patrimônio espiritual dos povos e atualiza a mensagem das religiões tradicionais, especialmente Cristianismo e Islã, observou o autor brasileiro Mateus Soares de Azevedo.[5]
Os precursores da Filosofia Perene foram os mestres sapienciais do passado, sábios como Platão, Pitágoras, Shânkara e Mestre Eckhart, sendo que os fundamentos desta escola de pensamento estão na metafísica pura, ou na "natureza das coisas", e não em uma das grandes Revelações religiosas da humanidade. Não obstante isso, a Filosofia Perene prescreve a necessidade de vínculo pessoal a uma tradição espiritual ortodoxa.[6] Frithjof Schuon faleceu em 5 de maio de 1998 em Bloomington, Indiana, EUA, para onde havia emigrado, a partir da Suíça natal, em 1980.

A Filosofia Perene

Ver artigo principal: Filosofia Perene
A ideia central da Filosofia Perene exposta por Schuon e Guénon é que a verdade metafísica fundamental é simultaneamente universal e perene, não pertencendo a nenhuma religião em particular. As diversas religiões mundiais expõem esta verdade una segundo suas linguagens próprias.
A Filosofia Perene certamente não se pretende uma "nova religião", destinada a substituir as religiões tradicionais, nem é uma “super religião”, que fundiria todas as tradições num único organismo. Para a Filosofia Perene, a verdade é veiculada de “formas” diferentes pelas distintas religiões mundiais. Ou seja, a doutrina metafísica de Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo etc sobre o Absoluto, Deus, o homem e o pós-vida, por exemplo, é convergente. Mas seus dogmasrituais e moralidade são distintos.
A Filosofia Perene não sustenta que todas as religiões são iguais, como parece indicar um ecumenismo tão fácil como superficial. Na verdade, ela sustenta justamente o contrário, ou seja, que a razão de ser das diferentes tradições é veicular a verdade una para povos e épocas específicas. Isto é, a Verdade perene e universal está além das formas, é supra-formal, enquanto as religiões exteriorizam esta Verdade una segundo seus modos e formas específicos.
O conceito da Filosofia Perene existe desde a época do Renascimento (séculos XV e XVI), mas ela passou a se tornar mais conhecida no Ocidente no início do século XX, graças às obras do francês René Guénon(1886-1951), do indiano Ananda Coomaraswamy (1877-1947); do suíço-alemão Titus Burckhardt (1908-1984) e, sobretudo, de Frithjof Schuon. É preciso mencionar também o livro de Aldous HuxleyThe Perennial Philosophy, de (1945), apesar da perspetiva de Huxley ser mais literária do que espiritual.

Vida

Frithjof Schuon nasceu numa família católica alemã; seu pai era violinista da Orquestra Sinfônica de Basileia (Suíça) e professor no conservatório local. Seu único irmão, Erich Schuon, foi ordenado sacerdote católico e se tornou monge da Trapa, a ordem mais rigorosa do Catolicismo.
Ao longo de sua vida, Schuon fez diversas viagens internacionais, com o fim de conta(c)tar autoridades espirituais de diferentes religiões e recolher material para seus livros.
Esteve várias vezes no Magrebe (nas décadas de 1920 e 1930, onde conviveu com o célebre xeque sufi Ahmad al-Alawi, um dos grandes místicos do islamismo no século XX); no Egito (em 1938 e 1939, onde se encontrou com René Guénon e Martin Lings); na Índia (em 1939); na Turquia; na Grécia; no Marrocos e em boa parte da Europa ocidental.
Na década de 1960, visitou seus amigos índios, das tribos Sioux e Crow, nos Estados Unidos. Como resultado, escreveu o estimulante volume sobre a civilização Pele-Vermelha, The Plain Indians in Art and Philosophy("Os índios das planícies na arte na filosofia"), que contém, além de penetrantes ensaios sobre a religião e a sabedoria índia, suas impressionantes pinturas de mesma temática.
Nos Estados Unidos, onde passou a viver a partir de 1981, em uma chácara no Meio-Oeste, Frithjof Schuon escreveu seus últimos livros de ensaios, como Sur les traces de la Religion pérenne (1982); Approches du phénomène religieux (1984); Résumé de métaphysique intégrale (1985); Avoir un centre (1988); Racines de la condition humaine(1990); Les Perles du pèlerin (1991); Le Jeu des Masques (1992); e La Transfiguration de l’Homme (1995).
Nos três últimos anos de vida, escreveu mais de três mil poemas breves em alemão; esta impactante obra traduz em linguagem literária e direta sua mensagem global.
Frithjof Schuon morreu em sua casa, em 5 de maio de 1998.

Obra

Frithjof Schuon é autor de uma obra singular e original, única no mundo contemporâneo ao reunir exposição da verdade metafísica compartilhada pelas grandes religiões mundiais, guiamento espiritual profundo e crítica da mentalidade relativista e materialista da modernidade. Além disso, foi um poeta inspirado, autor de diversos livros de poesia, e artista plástico original. Segundo M. Soares de Azevedo, assim como as ideias de Platão influenciaram a visão de mundo de diferentes tradições (a cristã, a islâmica e a judaica), do mesmo modo a obra de Schuon tem sido apta a influenciar correntes de pensamento nos mundos budista, hindu, católico, ortodoxo, protestante e islâmico.[7]
Schuon escreveu mais de vinte livros de metafísica, filosofia das religiões, espiritualidade, arte e cultura tradicional (ver lista abaixo). Sua obra inaugural expõe uma de suas ideias fundamentais, a da unidade transcendente das religiões, que dá título ao livro (S. Paulo, Irget, 2011). Esta obra explica também as diferenças conceituais entre filosofia, teologia e metafísica, além de expor uma visão metafísica e universalista da tradição cristã e do Islã.
O Sentido das Raças (S. Paulo, Ibrasa, 2005) expõe a visão tradicional sobre as castas, vistas como tipos humanos fundamentais, os quais incluem os brâmanes (o tipo sacerdotal e contemplativo); os kshatrias (governantes e aristocratas); os vaichas (a vasta classe média, incluindo profissionais liberais, artesãos, comerciantes, agricultores etc); e os shudras (trabalhadores braçais). O Homem no Universo (S. Paulo, Perspectiva, 2001) trata de temas como o diálogo entre platônicos e cristãos e a atualidade do monaquismo. Para Compreender o Islã (Rio de Janeiro, Record, 2007) expõe a essência do Islã, com capítulos sobre o Corão, o Profeta Maomé e o Sufismo. Tesouros do Budismo expõe a essência da religião do Buda, vista sob a luz universalista da Filosofia Perene. O mesmo se dá, mutatis mutandis, com o Hinduísmo (Langage of the Self) e com o Cristianismo (Christianisme/Islam).
De acordo com o autor australiano Harry Oldmeadow, "a obra de Schuon forma um corpo imponente e abrange uma espantosa variedade de religiões e assuntos metafísicos, sem quaisquer superficialidades e simplificações que se esperaria de um autor que cobre terreno tão vasto".[8]
A maioria dos livros de Schuon já foi traduzida para as principais línguas do mundo, como inglêsespanholalemãoitalianorusso e árabe. Suas obras em português são as seguintes:
  • Raízes da Condição Humana (São Paulo, Kalon, 2014. Tradução de Alberto V. Queiroz.)
  • A Unidade Transcendente das Religiões (São Paulo, Irget, 2011. Nova tradução, revista e ampliada. Tradução de Mateus Soares de Azevedo e Alberto V. Queiroz.)
  • Forma & Substância nas Religiões (São José dos Campos, 2010. Tradução e apresentação de Mateus Soares de Azevedo.)
  • A Transfiguração do Homem (São José dos Campos, 2009. Tradução de Alberto V. Queiroz.)
  • Para Compreender o Islã (Rio de Janeiro, 2006. Tradução e introdução de M. Soares de Azevedo. Título original: Comprendre l'Islam.)
  • O Homem no Universo (São Paulo2001. Tradução e introdução de M. Soares de Azevedo e Alberto Queiroz. Título original: Regards sur les mondes anciens.)
  • O Sentido das Raças (São Paulo2002. Tradução de Alberto Queiroz e Sérgio Sampaio e introdução de M.Soares de Azevedo. Título original: Castes et Races.)
  • O Esoterismo como princípio e como Caminho (São Paulo1995)
Há duas antologias em Português nas quais Schuon é o principal colaborador. A primeira é "Islã: O credo é a conduta" (Rio de Janeiro1990, organizada por Roberto Bartholo e Arminda Campos). O segundo volume é Filosofia Perene e Cristianismo (S. Paulo, Ibrasa, 2016), em que Schuon é o principal colaborador. Vale citar também uma antologia de mestres espirituais contemporâneos, do Oriente e do Ocidente, em que Schuon tem lugar de destaque; trata-se de "O Livro dos Mestres", de Mateus Soares de Azevedo (São Paulo, Ibrasa, 2016).

Poesia

Nos derradeiros anos de vida, Schuon escreveu mais de três mil poemas relativamente breves, em alemão. Uma seleção desses poemas foi logo publicada pela editora alemã Herder, em quatro pequenos volumes intitulados GlückLebenSinn e Liebe (Felicidade, Vida, Sentido e Amor). Posteriormente, a editora suíça Les Sept Flèches iniciou a publicação da obra integral numa edição bilingue em alemão e francês, terminada recentemente com o lançamento do décimo volume. Os poemas sintetizam numa linguagem direta suas visões filosóficas; são como uma suma metafísica e espiritual de toda a rica mensagem schuoniana para o homem contemporâneo.
Em termos de conteúdo, como escreveu William Stoddart na revista perenialista brasileira Religio Perennis, "os poemas alemães de Frithjof Schuon são similares aos de sua coleção inglesa Road to the Heart (1995), mas eles são muito mais numerosos, e o conjunto de imagens, muito mais rico e poderoso. Os poemas abrangem todo aspeto possível da doutrina metafísica, do método espiritual, das virtudes espirituais e do papel e função da beleza. Eles exprimem toda subtileza concebível de conselhos espirituais e morais — e isso não apenas em termos gerais, mas com excepcionais intimidade, detalhe e precisão. Eles exibem incrível agudeza, profundidade, abrangência e compaixão."
"Alguns poemas, prossegue Stoddart, são autobiográficos, com reminiscências de lugares em que Schuon viveu ou que ele visitou: Basileia e Paris, as ruas de contos de fadas de velhas cidades alemãs, o Marrocos e a Andaluzia, a Turquia e a Grécia, o Oeste norte-americano. Outros evocam o gênio de certos povos, como os hindus, os japoneses, os árabes, os peles-vermelhas, e também os cossacos e os ciganos. Outros ainda elucidam o papel da música, da dança e da própria poesia. Em um ou dois poemas, o mundo moderno ateu é o tema de um comentário mordaz e por vezes duramente jocoso.
Frithjof Schuon é o porta-voz preeminente de uma escola de pensamento centrada na expressão e explicação da Filosofia Perene. Esta filosofia é a verdade metafísica atemporal subjacente a diversas religiões e cujas fontes escritas são as Escrituras Sagradas, bem como os escritos dos grandes mestres espirituais. Porque estas verdades são permanentes e universais, este ponto de vista pode ser chamado de "Perenialista". A Filosofia Perene é uma perspectiva importante que pode guiar o estudo das Religiões Comparadas, da Antropologia, das Artes, da Literatura e de muitas áreas afins.
Schuon foi um filósofo na tradição de Platão, Shankara e Eckhart e ele escreveu mais de duas dezenas de livros sobre religião, metafísica, arte sagrada e o caminho espiritual. Descrevendo o primeiro livro de Schuon, A Unidade Transcendente das Religiões, o ganhador do Prêmio Nobel T.S. Eliot escreveu: "Nunca encontrei um trabalho mais impressionante no estudo comparado das religiões do Oriente e do Ocidente", e o estudioso das religiões de renome mundial Huston Smith disse de Schuon, "O homem é uma maravilha viva; intelectualmente no campo da religião, tanto em profundidade quanto amplitude, o paradigma do nosso tempo". Os livros de Schuon foram traduzidos em mais de uma dezena de línguas e são respeitados por autoridades tanto acadêmicas como religiosas. Os escritos de Schuon permanecem inigualáveis na definição dos princípios do pensamento perenialista, bem como nas suas aplicações espirituais, estéticas e em outras áreas relacionadas.
Além de sua eminência enquanto autor, Frithjof Schuon foi também artista e poeta talentoso. Sua arte e sua poesia fluiram naturalmente da sua percepção da criação como espelho da Presença de Deus. Notas do folheto de uma exposição em um museu da arte de Schuon explicam que, "brotando da sua personalidade rica e única, as pinturas de Schuon têm um valor raro, não só no que se refere ao mérito artístico, mas sobretudo devido ao seu dom de manifestar a alma humana no que ela tem de mais nobre e belo; portanto, enquanto veículo da Verdade." O senso do sagrado figura na arte e na poesia de Schuon assim como em seus escritos filosóficos.

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